sábado, 30 de julho de 2011

Então os dois se acharam sem nunca terem procurado um ao outro. Caminharam de mãos dadas mesmo quando reinava a dúvida de que talvez isso não seria a coisa certa a se fazer. Em se tratando daqueles sentimentos, fazer a coisa certa não era de fato, o mais importante. Passaram juntos por todos os medos de jogar no lixo uma amizade, de magoar pessoas, de saírem magoados. Passaram pelos medos que uma descoberta é capaz de trazer. E depois, pelo prazer que só uma descoberta traz. Sentaram juntos um dia desses, em frente ao lago. Foi ali que tempos atrás entregaram um ao outro o seu coração. Entregar um coração é coisa muito séria, viu? Mas não se arrependem nunca de tê-lo feito. A amizade que construíram é ainda mais bonita que as flores ao redor do lago. É sobre ela que puseram todos os sentimentos que vieram depois... Ontem pela manhã, o assunto do café era a cortina azul da sala. Ele acha que está perfeita, ela prefere que seja lilás. Não discordam só a respeito de assuntos banais; tem opniões diferentes sobre tantas outras coisas que sempre há algo para ser conversado ou discutido. Não caem no tédio de concordar em tudo, de gostarem só dos lugares que o outro gosta, de admirarem só o que o outro admira. À noite, depois de trocada a cortina, sentaram-se no tapete. Ela dizia que o adereço novo mudou tudo! Ele dizia que o sorriso dela é coisa muito mais linda que o lago, as flores, a cortina.
Faz tanto tempo que não posto nada que vou prometer aparecer logo. Também gostaria de mudar o nome do blog e acabar com o apego que tenho a esse. Sugestões?

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cuspiu no prato que raspou
Duvidou que um dia fosse mudar de idéia
Não preparou, se mandou, evaporou
Espatifou o prato na parede

E eu catando os cacos pra tentar colar depois
Mas depois não vou que não tem
Não vou que não tem, nem vai que não tô
Como quisesse pisar

Só por maldade ignorou
Seria realmente assim
E se pudesse levava até a saudade
Mas deixou
Impregnada em cada fração de mim

Da noite pro dia
Nem sabia que aquela seria
A última vez que eu a via
Da noite pro dia
Ela sorria e me garantia
Estar na maior alegria
Da noite pro dia
A ironia é serventia...
Por conta da casa vazia
Da noite pro dia (...)
Assim, de repente - Jay Vaquer

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

- E mais uma loucura, não tenho mesmo juízo!
- O bom é que nunca teve, não acontece de ficar com aquele sentimento de culpa.
- Não fala assim!
- Você sabe que não é mentira.
Ficaram em silêncio e continuaram andando. O frio que fazia parecia congelar de vez aquela conversa. Todos sabiam o quanto ela era relapsa, displicente, doida mesmo. Mas ninguém dizia isso a ela, não do jeito que ele dizia, sem qualquer pretensão de afetar ou ofender. Dizia porque era verdade e pronto.
- Ainda com fome?
E quebrou o silêncio.
- Não, na verdade aqueles pastéis de queijo me deixaram cheia!
- Você só come besteiras, não sei como sobrevive.
- Hoje é o dia de falar dos meus defeitos?
- Me preocupo com a sua saúde, só isso.
Continuaram andando e a noite parecia menos iluminada por causa do nevoeiro encobrindo as lâmpadas. Pararam em frente à casa dele: pequena, portas e janelas de madeira escura, paredes em um tom feio de amarelo.
- Não vai entrar?
- Claro que sim! Vou congelar se continuar aqui fora...
Entrou apressada, tirou o par de botas e se jogou no sofá com os pés sobre o tapete. Ela sempre se jogava no sofá do mesmo jeito e ficava olhando para a luminária que havia ao lado.
- Está bem mais quentinho aqui dentro.
Ele permaneceu de pé e cruzou os braços enquanto a olhava.
- Você está muito atraente hoje...
- Eu sempre estou atraente! - disse rindo alto, como de costume -
- Mas hoje é especial.
- Ah, pare com isso! Não preciso que você seja o responsável por levantar minha auto-estima.
- Posso sentar do seu lado?
- É claro que pode. É o seu sofá e você está na sua casa.
- Eu sei. Meu sofá, minha casa e minha melhor amiga. Tem certeza de que tudo isso me pertence? - sentando-se ao lado dela -
- Ora, tenho sim!
Não disse mais nada. Segurou o rosto dela devagar, olhou no fundo daqueles olhos e deixou sua boca encostar nos lábios pintados de batom vermelho. Ela tentou escapar por alguns segundos, mas acabou permitindo que suas mãos fossem de encontro a nuca dele. Sentia seus olhos se fechando lentamente e sua mente despindo-se de qualquer raciocínio. Até então, ela achava que beijar o melhor amigo seria muito esquisito. Achava.
- Acredita que estou sendo inconsequente?
Ela o puxou de volta, dessa vez, voraz. Encostou novamente sua boca na dele, tirando-lhe depressa seu casaco.
- Você mesmo diz que não tenho juízo. Não me importo com as consequências (...)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Passou da hora de voltar aqui. E as coisas não pararam de acontecer. Nunca param e ainda bem. Com o fim do ano se aproximando, a idéia de começar um novo ciclo dá mais sentido a tudo que planejamos. "Em 2010, vou arranjar um marido; conseguir um emprego novo; começar a dieta da sopa; comprar aparelhos de ginástica; rever alguns velhos amigos; cortar o cabelo na altura dos ombros; ajudar o abrigo de gatinhos de rua; ser mais responsável, menos fútil; ser mais amável, menos rude; levar minha filha à escola todos os dias; visitar meus pais que moram no Sul..." O intrigante é que muitos de nossos planos acabam ficando para o próximo ano e para o próximo e para o próximo, até que alguns deles, não concretizamos nunca. Por falta de oportunidade ou ainda, porque somos seres propensos a mudar de idéia. Ideia-sem-acento porque até mesmo esta, virá diferente para os próximos anos.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

E entrei no ônibus apressada, suada e quase sem ar. Me acomodei depressa catando ainda o dinheiro da passagem na bolsa. Dava pra ver que do lado de fora, era um lindo dia. Já tinha notado antes, mas olhando da janela, parecia ainda melhor. Não tinha como não reparar na cor do céu, do sol, das pessoas, das coisas. Passando pela ponte, o vento começou a entrar por todos os lados. Parecia dançar ali dentro trocando de janelas o tempo todo. Nunca havia sentido um vento tão agradável e tão convidativo. Entre cochilos e olhadas pra fora, resolvi que sairia do ônibus só quando tivesse que fazê-lo. Danem-se os planos e assim foi. De lá, fui andando com calma até onde eu pudesse pegar outra condução e voltar pra casa. Prestei atenção em cada rosto, cada som e depois, não percebi mais nada. Aquele vento veio de novo e por alguns minutos, ficamos só eu e ele. Não ouvia os barulhos da rua, das pessoas conversando. Tá certo que também não vi um ônibus vindo na minha direção. Não sentia mais meus pés doendo, nem calor, nem nada. Era como se de alguma forma quase inconsciente, eu tivesse sido capaz de anular o que havia em volta por completo. Então, uma senhora sorriu pra mim, me fazendo lembrar que eu estava cercada de gente. Sorri de volta e só. Continuei andando e imaginando pra onde as pessoas iam ou de onde estavam vindo, se eram legais, chatas, humildes, rudes, mães de família, filhos de pais separados. Enfim, se eram felizes.
- Linda linda linda!
Era uma voz masculina a qual eu não agradeceria, mas também não passaria indiferente. Talvez eu estivesse de fato linda linda linda e por hoje, livre livre livre...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"Diferente. Mais sorridente, eu acho."